domingo, 15 de março de 2009

VANGUARDAS EUROPÉIAS

As transformações tecnológicas por que o mundo passou na virada do nosso século modificaram as maneiras de o homem perceber a realidade. O automóvel, o avião, o cinema deslocaram e aceleraram o olhar do homem moderno. Em meio a essas transformações surgem várias manifestações artísticas: o Expressionismo, o Futurismo, o Cubismo, o Dadaísmo, o Surrealismo. A essa multiplicidade de tendências - ismos - convencionou-se chamar vanguardas européias, conhecidas como “correntes de vanguarda” e que conjugadas, dariam origem ao Modernismo.
A palavra vanguarda origina-se do francês avant-garde, termo militar que designa proteção frontal e que, no caso das artes e das idéias, passou a referir-se àqueles que estavam à frente de seu tempo.
EXPRESSIONISMO
Surgiu no final do século XIX e início do século XX como reação à objetividade do impressionismo, apresentando características que ressaltavam a subjetividade (expressão do racional, dos impulsos e das paixões). A palavra expressionismo foi empregada pela primeira vez em 191o, na revista Der Sturm ('A Tempestade'), marcando uma oposição clara ao impressionismo francês.
Desenvolveu-se principalmente na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e foi um importante instrumento para a realização de denúncias sociais, especialmente em um momento que, politicamente, os valores humanos eram o que menos importava.
O expressionismo na literatura
O expressionismo também foi marcante na literatura, cinema e teatro. No Brasil, o movimento encontrou sua máxima representação através da pintura, especialmente por meio de artistas como Anita Malfatti, Lasar Segall e Osvaldo Goeldi.
O movimento é marcado pela subjetividade do escritor, análise minuciosa do subconsciente dos personagens e metáforas exageradas ou grotescas. Em geral, a linguagem é direta, com frases curtas. O estilo é abstrato, simbólico e associativo.
Psicologia de um vencido
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
FUTURISMO Surgiu por meio do Manifesto Futurista, publicado em Paris, em 1909, assinado pelo italiano Filippo Tommaso Marinetti. Nesse documento, o primeiro de uma série (foram publicados pelo mais de 30 manifestos) – Marinetti propunha:

1-o amor ao perigo, à verdade, à energia. 2-a abominação do passado: arqueologia, academicismo, nostalgia, sentimentalismo. 3-a exaltação da guerra, do militarismo, do patriotismo: “A guerra é a única higiene do mundo”. 4-a substituição da psicologia do homem (destruindo o eu na literatura) pela obsessão da matéria. 5-a incorporação de novos objetos como temas de poesia: locomotivas, automóveis, aviões, navios a vapor, fábricas, multidões de trabalhadores. 6-exaltação da bofetada e do soco: Não há beleza senão na luta”.

[...]

Manifesto Técnico da Literatura Futurista, datado de março de 1912, publicado em Milão, onde são apresentados minuciosamente os pontos básicos de uma reforma radical:

a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso. o emprego do verbo no infinitivo, para que se adapte elasticamente ao substantivo e possa dar o sentido de continuidade e da intuição que nele se percebe. abolição do adjetivo, para que o substantivo guarde sua “cor essencial”. abolição do advérbio, “que dá à frase uma cansativa unidade de tom”. supressão dos elementos de comparação: como, parecido com, assim como. substituição dos sinais tradicionais de pontuação por signos matemáticos: X-:+=><>

Ode Triunfal

Álvaro de Campus, heterônimo de Fernando Pessoa

[fragmento]

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

CUBISMO

O início do Cubismo foi a pintura de Pablo Picasso. O quadro Les Demoiselles d’Avignon, de 1907 propunha uma nova forma de apreensão do real. Por meio de formas geometrizadas (cones, esferas, cilindros, etc.) deformadas, Picasso procura captar o objeto de vários ângulos ao mesmo tempo. Na literatura podem ser apontados os seguintes elementos do estilo cubista: a obra de arte não deve ser uma representação objetiva da natureza, mas uma transformação dela, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva. a procura da verdade deve centralizar-se na realidade pensada, criada, e não na realidade aparente. a ordem cronológica deve ser eliminada. As sensações e recordações vão e vêm do presente ao passado, embaralhando o tempo. a valorização do humor, a fim de afugentar a monotonia da vida nas modernas sociedades industrializadas. a supressão da lógica; preferência pelo pensamento-associação, que transita entre o consciente e o subconsciente.

Hípica

Osvald de Andrade

Saltos records Cavalos da Penha Correm jóqueis de Higienópolis Os magnatas As meninas E a orquestra toca Chá Na sala de cocktails

DADAÍSMO

Surgiu em Zurique, na Suíça, com o primeiro manifesto do romeno Tristan Tzara, lido em 1916, o Dadaísmo foi a mais radical das correntes de vanguarda.

“Dada” significa cavalo de balanço em francês, “sim” em romeno, preocupação em conduzir o carrinho do bebê em alemão, uma forma de chamar a mãe em italiano, e, em certas regiões da África, o rabo da vaca sagrada. A partir dessa plurissignificação, a obra dadaísta passa a ser improvisação, desordem, dúvida, oposição a qualquer tipo de equilíbrio.

Faziam parte das propostas dadaístas:

a denúncia das fraquezas por a Europa passava. a recusa dos valores racionalistas da burguesia. a desmistificação da arte: “a arte não é coisa séria”. a negação da lógica, da linguagem, da arte e da ciência. a abolição da memória, da arqueologia, dos profetas e do futuro.

Os dadaístas inventaram a técnica dos ready made, que consiste em retirar um objeto do uso corrente de seu ambiente normal, para criar máquinas impossíveis de utilização. Marcel Duchamp, um dos mais geniais criadores do ready made, expôs, entre outras coisas, uma roda de bicicleta cravada num banco e um urinol. Pintou também, certa vez, uma Mona Lisa decorada com bigodes.

Características

  • agressividade
  • improvisação
  • desordem
  • rejeição ao racional
  • livre associação de palavras (escrita automática)
Para fazer um poema dadaísta Pegue um jornal Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. (Tristan Tzara)
SURREALISMO
Surgiu em 1924, em Paris, quando André Breton lançou o Manifesto do Surrealismo, o qual propunha uma ruptura com o Dadaísmo. Enquanto os dadaístas insistiam na mera destruição, no niilismo e na autofagia, Breton e outros artistas como Louis Aragon e Salvador Dali achavam que a ação demolidora deveria somente uma das etapas do processo criativo. Queriam elaborar uma nova cultura, encontrar um caminho de acesso às zonas profundas do psiquismo no humano. Questionando a sociedade e a arte, eles se propunham destruí-la, para recriá-la a partir de técnicas renovadoras. Os surrealistas procuravam fundir a imaginação, que dorme no inconsciente, com a razão. Juntar o maravilhoso do sonho, dos estados de alucinação e até de loucura do homem, com o maravilhoso e externo: a fantasia e a realidade unidas permitiram captar uma super-realidade.
Características
  • ilogismo
  • devaneio
  • sonho
  • loucura
  • hipnose
  • humor negro
  • imagens surpreendentes
  • livre expressão dos impulsos sexuais
  • escrita automática

PRÉ-HISTÓRIA

Murilo Mendes

Mamãe vestida de rendas Tocava piano no caos. Uma noite abriu as asas Cansada de tanto som, Equilibrou-se no azul, De tonta não mais olhou Para mim, para ninguém! Cai no álbum de retratos.

4 comentários:

  1. Muito bom. Mas eu acho que no fim vc confundiu futurismo ao invés de Surrealismo. Me ajudou MUITO seu texto.Está muito rico em informações. Parabéns!

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  2. Muito bom... Parabéns , me ajudou muito valeu!

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  3. Muito interessante!
    Parabéns!

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